O Papa não está doente. O Papa está bem.
A razão da decisão de renunciar ao ministério petrino é devido à
fragilidade proveniente do envelhecimento e da conseqüente
impossibilidade de governar a Igreja melhor.
Padre Federico Lombardi explicou com
clareza as causas subjacentes da histórica decisão anunciada ontem pelo
Pontífice. Uma "decisão consciente, espiritual, bem fundamentada do
ponto de vista da fé e humano”, como declarou na coletiva de hoje com
os jornalistas na Sala de Imprensa vaticana.
Em particular, o porta-voz do Vaticano,
quis "eliminar" algumas insinuações que saíram ontem pelos meios de
comunicação italianos, sobre uma possível doença do Santo Padre, que
ainda estivesse escondida e sobre alguns procedimentos cardíacos que o
Papa teria sofrido recentemente.
"Não existem doenças específicas",
afirmou Pe. Lombardi, nem sequer “algum intervenção especial”. É verdade
que Bento XVI nos meses passados se submeteu a uma pequena operação
cardíaca, mas – explicou Lombardi – foi apenas uma substituição das
baterias do marca-passo. Portanto, uma intervenção “normal, de rotina,
como de todas as pessoas que têm um controlador cardíaco” que não tem
nenhum importância na decisão do Pontífice, porque foi algo “irrelevante
sob todos os pontos de vista”.
O diretor da Assessoria de Imprensa
Vaticana confirmou que até o dia 28 de fevereiro – data em que a Sé
ficará vacante – a agenda de Bento XVI não sofrerá nenhuma variação.
Trata-se das últimas intervenções do Papa Ratzinger, portanto, “ocasiões
preciosas” que o Padre Lombardi convidou a “prestar muita atenção”.
Sobretudo, prestemos atenção na
Audiência geral de amanhã (a primeira aparição pública post declaratio),
e a celebração das Cinzas que, por questões de espaço, não será mais na
Santa Sabina no Aventino, mas na Basílica de São Pedro, justamente
“para acolher mais fieis e tantos cardeais” que participarão daquela
que, de fato, é “a última grande concelebração do Papa”.
Depois ainda acontecerá, na quinta-feira
de manhã, na Sala Paulo VI, a antiga tradição do encontro – conversa do
Papa com o clero romano. Naquela ocasião, Bento XVI “falará
espontaneamente com anotações preparadas”, e de acordo com o que disse
Pe. Lombardi, “falará da sua experiência no Concílio Vaticano II”.
Permanecem inalterados também outros
eventos, como os Angelus do domingo, as visitas ad limina dos bispos
italianos, as audiências aos presidentes da Romania e Guatemala, a
intervenção no final dos exercícios espirituais e a última audiência do
27 de fevereiro, que acontecerá provavelmente na Praça de São Pedro,
“para dar possibilidade de uma participação maior na saudação ao Santo
Padre”.
Respondendo a uma questão urgente, o
porta-voz do Vaticano também falou da possível encíclica sobre a fé e a
possibilidade de que seja publicada no final do mês. "Que eu saiba não -
disse - porque não estava preparada para ser traduzida, publicada,
terminada em pouco tempo".
"Se haverá depois outro modo em que
Bento XVI nos fará participantes das suas reflexões sobre a fé, muito
bem”, acrescentou. Porém, “a Encíclica como tal, publicada pelo Papa não
podemos pensar que a teremos até o final do mês".
Perguntado sobre o motivo que fez o Papa
não ter definido uma data que lhe tivesse dado mais tempo para entregar
o importante documento, padre Lombardi respondeu “a escolha da data de
uma comunicação e depois a sede vacante é uma escolha feita com uma
reflexão ampla também em base a um calendário litúrgico e aos
compromissos da Igreja".
"Esse - afirmou – era um bom tempo para
ter um espaço de um anúncio e depois a convocação do conclave, de tal
forma que se chegasse à Páscoa e ao período pascal com a eleição do novo
Papa”. Consciente, portanto, da “sua condição de forças que diminuem”,
Bento XVI considerou já o momento amadurecido para deixar que fosse um
outro Papa a enfrentar os novos compromissos e concluir o Ano da fé.
Continuando o tema dos "tempos",
Lombardi explicou que o Papa deixará as suas funções às 20hs e não às
24hs do dia 28 de fevereiro, porque naquela hora acaba “normalmente” a
jornada de trabalho do Papa, “antes de retirar-se em oração e depois
repousar”.
Grande preocupação dos jornalistas foi,
então, compreender como se chamará ou vestirá Bento XVI quando volte ao
Vaticano depois da sua estada em Castel Gandolfo. “São questões ainda
não definidas” disse Lombardi.
Notícia certa é, pelo contrário, que
Bento XVI “não voltará cardeal”, nem “será Bispo emérito de Roma” ainda
se, por agora, não existem fórmulas oficiais. É certo, porém, que não
terá nenhum papel no próximo conclave, enquanto que permanece a
probabilidade de que, como é normal, o anel petrino seja quebrado.
O diretor da Sala de Imprensa do
Vaticano confirmou o início em novembro dos trabalhos de restauração do
mosteiro Mater Ecclesiae "no Vaticano, que há um tempo era ocupado por
irmãs de clausura, onde o Papa residirá.
Embora tenha sido "ampliado com a
construção de uma capela ao longo do muro que desce da torre da Colina”,
o Mater Ecclesiae “permanece portanto um edifício pequeno – disse
Lombardi – onde não podem estar unidos a residência das religiosas e a
do Papa" .
Quando perguntado sobre o motivo que fez
o Papa decidir morar neste lugar, o porta-voz respondeu que foi uma
decisão do Papa, porque “ninguém lhe impõe onde deve ir ou o que deve
fazer”. “O Papa conhece muito bem o Vaticano – acrescentou – e,
portanto, sabia perfeitamente o que era o convento, onde estava e se
poderia ser uma colocação adequada” que garantisse uma certa “autonomia e
liberdade”.
Uma última questão levantada é a de que
foi a mesma viagem a Cuba e ao México que determinou, devido à fadiga, a
decisão do Pontífice de demitir-se. Na realidade, assinalou Padre
Lombardi, Bento XVI tinha considerado esta hipótese já no
livro-entrevista do 2010, “Luz do Mundo”, de Peter Seewald.
Portanto, era um tema já claro antes da
viagem ao México e Cuba, “independente de eventos específicos". Além
disso, depois da experiência da viagem intercontinental, o Santo Padre
"não colocou no calendário outras grandes viagens, mas só afirmou que
para Rio era normal que o Papa estivesse presente, mas não quer dizer
que seria ele mesmo que estaria presente”.
Em conclusão, à questão "escaldante":
conseguirão conviver dois Papas no Vaticano? Pe. Lombardi respondeu
calmamente: "É uma situação nova, mas acho que não haverá nenhum
problema para o seu sucessor". Na verdade, afirmou, “o sucessor
provavelmente se sentirá sustentado pela oração, por uma presença
intensa de amor e de participação da pessoa que mais do que qualquer
outra no mundo pode compreender e participar das preocupações do seu
sucessor”.
Por Salvatore Cernuzio
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